09 DE MARÇO DE 2016
Em abril de 2015, o virologista Gubio Soares Santos
descobriu – ao lado da também virologista Silvia Inês Sardi e com a colaboração
do infectologista Antônio Bandeira – que o vírus da
zika tinha chegado ao Brasil.
Pesquisadores do Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências da Saúde da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), eles sofrem hoje com a falta de recursos
para prosseguir as pesquisas sobre o vírus que tem sido cada vez mais
fortemente associado à microcefalia e à síndrome de Guillain-Barré.
“Não tem dinheiro para pesquisa. Nem para consertar um
freezer de 80ºC negativos, que queimou depois de uma queda de energia no
laboratório, temos recurso”, diz Santos.
Ele critica o fato de, mesmo em uma situação de
emergência em saúde pública como a que o país enfrenta, não haver um canal
direto para solicitar recursos para pesquisa sobre o tema no Ministério da
Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). “O governo não está investindo recursos
e não temos a quem recorrer.”
Uma das linhas de pesquisa que seu grupo gostaria de
seguir diz respeito ao vetor da zika. “Estamos acusando o Aedes aegypti porque zika e dengue são da mesma
família, mas ainda faltam provas científicas no Brasil”, diz.
Outra seria estudar outras formas de transmissão, como a
sexual e a possibilidade de infecção pela saliva. “Podemos encontrar o vírus em
secreções, mas não significa que é possível contaminar dessa forma, é preciso
investigar.”
O estudo da resposta imune do indivíduo contra o vírus e
o desenvolvimento de testes mais eficazes para diagnóstico também são áreas de
interesse da equipe.
Governo federal prepara pacote de
financiamento
Em resposta à crítica, o MCTI afirmou, em nota enviada ao G1, que está em elaboração pelo governo federal "um pacote de iniciativas voltadas para pesquisas sobre o vírus zika e demais doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti". O projeto é uma parceria do MCTI, do Ministério da Saúde, do Ministério da Educação, da Casa Civil e de agências de financiamento. Segundo a pasta, o pacote deverá ser anunciado pelo governo federal nas próximas semanas.
"Na visão do MCTI, o governo federal não medirá
esforços para preservar os investimentos para pesquisas na área, uma vez que a
mobilização de combate ao vírus zika e ao Aedes
aegypti é uma
prioridade nacional."
Pesquisa de zika no exterior
A preocupação de Santos é que as principais descobertas relacionadas ao vírus da zika acabem sendo feitas no exterior. “Fora do Brasil, os pesquisadores estão trabalhando nas mesmas pesquisas, mas é como se eles estivessem andando de Ferrari e nós estivéssemos andando de carroça. Estamos caminhando enquanto eles estão correndo.”
Uma das alternativas que vislumbra contra a falta de
verbas seria fechar parcerias com organizações estrangeiras. “Estamos esperando
o resultado de uma parceria com a Europa, cujo resultado vai sair em abril e,
se der certo, vão transferir recursos para comprarmos material e equipamento”,
conta.
Ele lembra que um novo pico de infecções pelo vírus da
zika deve ocorrer em breve nos estados do Nordeste e que a demora na obtenção
de recursos pode atrasar a obtenção de resultados que possam ter impacto
importante na saúde pública.
Fonte: G1
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