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Idoso que teve aposentadoria desviada pela neta afirmou que acreditava que ela era uma 'pessoa boa' — Foto: Globoplay/Reprodução. |
"Dá uma dor no coração, quase de morrer. Às vezes fico pensando assim: a coragem de uma pessoa dessa… Eu franquear tudo, deixei na mão dela, acreditando que ela era uma pessoa boa, e ela ter coragem de roubar nesse tipo. Isso é roubar. Eu trabalhei desde piá, toda vida, nunca peguei 10 centavos de ninguém. Por que que agora vem uma sem vergonha dessa me roubar?", desabafou.
O caso foi registrado em Ponta Grossa, nos Campos Gerais do Paraná, e a suspeita não teve o nome divulgado.
Segundo o delegado Gabriel Munhoz, os valores desviados eram provenientes da aposentadoria mensal que o idoso recebe e de um precatório (dívida paga após processo judicial).
"O inquérito revela que a suspeita entregava apenas parte do valor da aposentadoria ao idoso, alegando que o restante estava guardado. Quando questionada sobre o décimo terceiro salário pelo idoso, afirmava que 'o Lula tinha cortado', evidenciando seu dolo e desprezo pelo avô", afirma Munhoz.
Conforme o delegado, os desvios começaram em 2021, quando a neta passou a ser responsável por cuidar das finanças do idoso.
Munhoz também conta que a mulher não trabalha e usava o dinheiro desviado do avô para se sustentar.
Em depoimento à polícia, ela negou os atos. Depois de depor, a neta foi liberada.
"Os fatos não se deram como relatado pela autoridade policial. A suposta vítima era avô da acusada e colaborava voluntariamente para sua manutenção. Ademais, os valores são inferiores aos indicados no inquérito. Mas, mesmo não tendo ocorrido qualquer fraude, a acusada pretende ressarcir ao avô pelos valores emprestados", aponta o advogado dela, Fernando Madureira.
Golpe foi descoberto por atraso no pagamento do IPVA
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Extrato bancário mostra que mulher começou a desviar dinheiro no mesmo dia em que valor de precatório caiu na conta do idoso, segundo delegado — Foto: Cedida pela Polícia Civil |
A família percebeu o crime depois que um dos filhos da vítima descobriu que o Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores (IPVA) do carro do idoso estava atrasado havia três anos, mesmo após ele ter entregado dinheiro à neta para o pagamento.
Após a suspeita, o filho procurou o gerente do banco onde o idoso tem conta e descobriu que a mulher estava fazendo transferências para a própria conta.
"Eu conversei com o gerente. Ele olhou a conta e falou: 'Aqui não tem dinheiro nenhum'. Daí ele falou assim para mim: 'Seu pai recebeu um precatório de R$ 123 mil e aqui tem umas transferências. Eu falei: 'Espera aí! Como assim? Transferências?'. Tirei os extratos e fui descobrindo tudo. Eu juro por Deus, fiquei surpreso, porque eu jamais imaginaria que ela estivesse fazendo isso com meu pai, que é uma pessoa idosa", detalha o filho.
Suspeita criou 'personagem fictícia' para aplicar os golpes
O delegado Gabriel Munhoz afirma que a neta se aproveitava da confiança depositada nela pelo avô e pelo restante da família e se oferecia para "ajudar" o idoso a sacar a aposentadoria.
Segundo Munhoz, ela também realizava empréstimos e abria contas no nome do avô, sem a autorização dele, e chegou a criar uma personagem fictícia, que se apresentava como funcionária da Caixa Econômica, para enganar o idoso.
"Para aplicar o golpe, a mulher criou uma personagem fictícia chamada 'Jessica', supostamente funcionária da Caixa Econômica, que ligava informando sobre bloqueios na conta e valores a serem retirados, além de abrir contas em outros bancos para desviar parte do valor", detalha Munhoz.
As investigações apontaram que a linha telefônica usada pela suposta "Jessica" estava em nome de uma pessoa ligada à suspeita.
No golpe, ela transferia parte do valor para a própria conta, deixando o idoso acreditar que o dinheiro estava sendo guardado. As investigações apontam que, no total, ela desviou cerca de R$ 72 mil da aposentadoria do avô.
Um precatório recebido pelo homem também foi alvo de desvios. Nesse caso, a mulher se apropriou de cerca de R$ 109 mil do total de R$ 123,8 mil que foram depositados na conta do idoso, explica o delegado.
"Do valor total do precatório, apenas R$ 14 mil foram efetivamente repassados ao avô, tendo sido informado que o restante estava 'investido' ou 'bloqueado', quando, na verdade, os valores foram sendo retirados ao longo do tempo", afirma.
Crime tem pena prevista em até 10 anos de prisão
A suspeita foi indiciada por estelionato, majorado pelo crime ter sido cometido contra idoso. Ela também responde pelo caráter contínuo do crime, uma vez que, segundo o delegado, os golpes foram aplicados ao longo de vários anos.
Para o crime, o Código Penal prevê pena de até 10 anos de prisão. Ela vai responder em liberdade.
Assista ao vídeo:
Portal Picuí Hoje com informações do g1 PR e RPC — Ponta Grossa.


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